Alter Comunicação https://www.alterconteudo.com.br/ Conteúdo Relevante Fri, 18 Aug 2023 14:24:34 +0000 pt-BR hourly 1 https://www.alterconteudo.com.br/wp-content/uploads/2022/05/Favicon_Alter_2-81x81.png Alter Comunicação https://www.alterconteudo.com.br/ 32 32 Pais amamentam. Mas por que não os “vemos”? https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/18/pais-amamentam-mas-por-que-nao-os-vemos/ https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/18/pais-amamentam-mas-por-que-nao-os-vemos/#respond Fri, 18 Aug 2023 14:24:33 +0000 https://www.alterconteudo.com.br/?p=23874 Há uma semana, eu me emocionava lendo o texto “Tudo o que eu quero é ser um bom pai!”, do querido amigo Eduardo Nunes. Assim como Edu, sou pai de duas “meninas” – só que hoje minhas filhas já são adultas. E avô de dois meninos, ainda crianças como as filhas do Edu. De cara, me identifiquei com as preocupações e os desafios da paternidade, que, felizmente, vem deixando para trás os ranços de machismo, misoginia e irresponsabilidade que marcaram várias gerações de pais. Naquele momento, pensei em minhas falhas como pai. E acabei falhando também em identificar no emocionante artigo traços de uma naturalização da paternidade que nós, homens (e acredito que mulheres também) aprendemos desde criança: pai não amamenta. Conversei com Edu sobre isso, e ele, gentilmente, me cedeu este espaço. Tão envolto em refletir sobre “ser pai”, ignoramos que essa mesma paternidade que, felizmente, não é mais a mesma, também não está mais restrita a pessoas que, biologicamente, são identificadas como “homens” ao nascer. E que justamente por isso ampliou todas as possibilidades associadas ao cuidado de uma outra pessoa – inclusive amamentar. Afinal, há homens transgênero que são pais e podem, sim, amamentar, como mostra a...

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Há uma semana, eu me emocionava lendo o texto “Tudo o que eu quero é ser um bom pai!”, do querido amigo Eduardo Nunes. Assim como Edu, sou pai de duas “meninas” – só que hoje minhas filhas já são adultas. E avô de dois meninos, ainda crianças como as filhas do Edu. De cara, me identifiquei com as preocupações e os desafios da paternidade, que, felizmente, vem deixando para trás os ranços de machismo, misoginia e irresponsabilidade que marcaram várias gerações de pais.

Naquele momento, pensei em minhas falhas como pai. E acabei falhando também em identificar no emocionante artigo traços de uma naturalização da paternidade que nós, homens (e acredito que mulheres também) aprendemos desde criança: pai não amamenta. Conversei com Edu sobre isso, e ele, gentilmente, me cedeu este espaço.

Tão envolto em refletir sobre “ser pai”, ignoramos que essa mesma paternidade que, felizmente, não é mais a mesma, também não está mais restrita a pessoas que, biologicamente, são identificadas como “homens” ao nascer. E que justamente por isso ampliou todas as possibilidades associadas ao cuidado de uma outra pessoa – inclusive amamentar. Afinal, há homens transgênero que são pais e podem, sim, amamentar, como mostra a revista AzMina.

Por que falhei? Sou parceiro da Alter Conteúdo, responsável pela curadoria de notícias e revisão da Estratégia ESG. Mas, antes disso, sou um homem gay, cisgênero, ativista LGBTQIAP+ e pesquisador da área de gênero e sexualidade. Uma constante em meus estudos é justamente questionar a “naturalização” que a sociedade faz com os gêneros e as sexualidades. Coisas do tipo “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”. Ou “isso é coisa de homem, isso é coisa de mulher, é da natureza”. Então, por que também não vi que homens podem, sim, amamentar? Que não existe uma “natureza da paternidade”, assim como não há uma “natureza da maternidade”?

Ver. É exatamente aí que está o problema. Por mais que lutemos contra velhos preconceitos, por mais que trabalhemos constantemente para quebrar paradigmas socialmente criados, mas que usam uma falsa explicação da “natureza”, temos uma tremenda dificuldade de “ver” além daquilo que durante muitos anos aprendemos que “é natural”. Por mais que saibamos que isso não tem nada a ver com “natural”. Por mais que estudemos.

Para ver mais, ver além, ver o que de fato é, é preciso abrir bem os olhos – e que fique claro que isso nada tem a ver com o sentido da visão em si, fisiológico. É fugir do “vício” de enxergar somente aquilo que fomos criados para enxergar e que alguém disse que é o que deve ser enxergado. E, sobretudo, reconhecer quando falhamos nessa tarefa de olhar além do “visível” – atitude que deve ser permanente.

Trago dois depoimentos para dar visibilidade ao que costumamos achar que é “invisível”.

O primeiro deles é de Noah Scheffel, dado à revista Marie Claire em agosto do ano passado – o mês tido como “dos pais”. Noah é um homem trans, analista de tecnologia da informação e empreendedor social de Porto Alegre (RS), pai de duas meninas. Na verdade, Noah é pai de Helena e mãe de Anita, de quem se tornou mãe antes mesmo de fazer sua transição.

“Eu sou mãe de uma e pai de outra. Anita eu gestacionei e dei à luz antes da transição e ela tem um pai presente na vida dela. Sempre fiz papel de mãe, e aí desconstruí que mãe tem gênero e pai tem gênero. A Helena chegou na minha vida quando tinha quase dois anos de idade e a conheci porque é filha biológica da minha ex-esposa. Ela não tinha registro de pai e era uma criança que eu me via muito nela, com uma conexão muito forte. Meu relacionamento com a mãe dela evoluiu rapidamente e começamos a morar juntos, então pensei ‘por que não registrar no papel o que já fazia de parentalidade?'”

Noah continua: “Helena me chama de pai e Anita me chama de mãe, e sou a mesma pessoa. É importante poder desconstruir papéis impostos que o homem precisa ser isso e a mulher aquilo. Dá para ser os dois papéis em uma mesma figura”.

Também em agosto do ano passado, o designer criativo Apollo Arantes, de Recife (PE), então grávido de 8 meses, disse ao Brasil de Fato que “se o mundo não me enxerga como pai, mas se a minha criança me enxerga, para mim, isso é suficiente”. Ele é casado com a ativista e assessora parlamentar Amanda Palha, que é mulher trans.

Apesar da preocupação com o que sua criança poderá sofrer em sociedade tendo um pai e uma mãe trans, Apollo disse que encara a tarefa como mais um desafio de quem tem de lutar todo o tempo contra a invisibilidade e a discriminação.

“Enxergo muito como um desafio, mesmo, e a gente fica pensando como essa criança vai ser recebida fora de casa, porque ela tem um pai e uma mãe que são trans e quais as informações ela vai receber a respeito disso. Em nenhum outro momento da vida a gente pôde analisar e refletir antes, a gente sempre teve que enfrentar. Acho que a paternidade tem que ser validada pela criança, ela me entender como pai, ela entender a Amanda como a mãe dela.”

Fico com as lições de Noah e Apollo. Pai não tem gênero. Mãe não tem gênero. Dá pra ser pai e mãe ao mesmo tempo, ainda mais quando, cedo ou tarde, vemos que não há “funções” só de mãe, ou só de pai.

Ver. Enxergar. É disso que precisamos.

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Semeando o impacto https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/17/semeando-o-impacto/ https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/17/semeando-o-impacto/#respond Thu, 17 Aug 2023 18:00:03 +0000 https://www.alterconteudo.com.br/?p=23871 Quando refletimos sobre a importância de apoiar organizações de impacto social, uma verdade surge claramente: nossas ações, por menores que possam parecer, têm o poder de provocar mudanças significativas. Há mais de uma década acompanho os desafios de organizações da sociedade civil, ONGs, Oscips, fundações para manter sua sustentabilidade e garantir apoio às comunidades atendidas. As batalhas de captação de recursos, a luta constante por visibilidade e a busca permanente por parcerias são lembretes frequentes de que construir um impacto sustentável requer a união de muitos. Embora pesquisas mais recentes nessa área ainda não tenham sido publicadas, dados do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) comparam perfis individuais de doadores no Brasil de 2015 a 2020. Os resultados mostraram que as doações tiveram uma queda de mais de R$ 3 bilhões no período. Há alguns meses, enquanto conversava com uma organização na defesa da população em situação de rua, descobri ser possível apoiá-los a partir de R$ 1. Isso mesmo, apenas 1 real. Às vezes, nos concentramos tanto no total que esquecemos que podemos começar com uma pequena quantia. Da mesma forma, o voluntariado de algumas horas nos permite ser construtores de mudanças concretas. No Brasil, ainda prevalece a chamada...

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Quando refletimos sobre a importância de apoiar organizações de impacto social, uma verdade surge claramente: nossas ações, por menores que possam parecer, têm o poder de provocar mudanças significativas. Há mais de uma década acompanho os desafios de organizações da sociedade civil, ONGs, Oscips, fundações para manter sua sustentabilidade e garantir apoio às comunidades atendidas.

As batalhas de captação de recursos, a luta constante por visibilidade e a busca permanente por parcerias são lembretes frequentes de que construir um impacto sustentável requer a união de muitos. Embora pesquisas mais recentes nessa área ainda não tenham sido publicadas, dados do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) comparam perfis individuais de doadores no Brasil de 2015 a 2020. Os resultados mostraram que as doações tiveram uma queda de mais de R$ 3 bilhões no período.

Há alguns meses, enquanto conversava com uma organização na defesa da população em situação de rua, descobri ser possível apoiá-los a partir de R$ 1. Isso mesmo, apenas 1 real. Às vezes, nos concentramos tanto no total que esquecemos que podemos começar com uma pequena quantia. Da mesma forma, o voluntariado de algumas horas nos permite ser construtores de mudanças concretas.

No Brasil, ainda prevalece a chamada cultura da doação quando ocorrem tragédias, calamidades públicas e outras situações que causam agitação, conforme alertou Otacílio Nascimento, da Fundação Toyota. As coisas nem sempre precisam ser assim. Precisamos defender esse compromisso como coletivo. O que podemos esperar em troca é ver o impacto nos assistidos e nas comunidades.

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E a CPI? Acabou. E a terra? https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/16/e-a-cpi-acabou-e-a-terra/ https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/16/e-a-cpi-acabou-e-a-terra/#respond Wed, 16 Aug 2023 15:02:52 +0000 https://www.alterconteudo.com.br/?p=23860 “O termo terra, com origem no latim terra, abrange diferentes acepções e significados. Faz referência, por exemplo, ao material quebradiço de que é composto o solo natural; ao terreno destinado ao cultivo; e ao piso/chão que pisamos.” Eu era repórter da Gazeta Mercantil quando vi, pela primeira vez, o Movimento dos Sem Terra (MST) chegar a Brasília, empunhando as ferramentas que usavam no campo. Vinham a pé. Um atrás do outro. Disciplinados. Seguros de seu propósito. A presença daquelas mulheres e homens fazia tremer o chão. Parecia que estremeceria os alicerces de uma sociedade desigual. Com seus calçados humildes, indumentária simplória, eram altivos e determinados na causa que escolheram abraçar. Repórteres de vários outros veículos fotografavam a cena, cada um dentro da ideologia que a empresa de comunicação onde trabalhavam pregava. Mas todos, inevitavelmente, estavam arrepiados. A marcha começou em 17 de fevereiro de 1997, conta o site do MST, quando cerca de 1.300 marchantes partiram de três pontos diferentes do país e caminharam por mais de mil quilômetros, durante dois meses, atravessando vários municípios brasileiros e chegando a Brasília no dia 17 de abril de 1997. Ontem (15/8), 26 anos depois, representantes do movimento foram barrados na porta da...

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“O termo terra, com origem no latim terra, abrange diferentes acepções e significados. Faz referência, por exemplo, ao material quebradiço de que é composto o solo natural; ao terreno destinado ao cultivo; e ao piso/chão que pisamos.”

Eu era repórter da Gazeta Mercantil quando vi, pela primeira vez, o Movimento dos Sem Terra (MST) chegar a Brasília, empunhando as ferramentas que usavam no campo. Vinham a pé. Um atrás do outro. Disciplinados. Seguros de seu propósito. A presença daquelas mulheres e homens fazia tremer o chão. Parecia que estremeceria os alicerces de uma sociedade desigual. Com seus calçados humildes, indumentária simplória, eram altivos e determinados na causa que escolheram abraçar. Repórteres de vários outros veículos fotografavam a cena, cada um dentro da ideologia que a empresa de comunicação onde trabalhavam pregava. Mas todos, inevitavelmente, estavam arrepiados.

A marcha começou em 17 de fevereiro de 1997, conta o site do MST, quando cerca de 1.300 marchantes partiram de três pontos diferentes do país e caminharam por mais de mil quilômetros, durante dois meses, atravessando vários municípios brasileiros e chegando a Brasília no dia 17 de abril de 1997.

Ontem (15/8), 26 anos depois, representantes do movimento foram barrados na porta da CPI do MST na Câmara dos Deputados, onde o líder nacional João Pedro Stédile era arguido pelo relator Ricardo Salles (PL/SP), ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro. Diferentemente do que acontece em dias normais, quando a entrada é democraticamente livre para quem quiser acompanhar o colegiado, apenas pessoas credenciadas podiam entrar na sala. Isso, disseram seguranças da Câmara, porque o relator e o presidente Zucco (Republicanos/RS) acharam que os movimentos iam “invadir” o plenário.

“Só ocupamos grandes propriedades improdutivas como forma de pressionar para que a Constituição seja respeitada”, enfatizou Stédile em sua fala. Midiaticamente, ele ajustou a Constituição de 1988 e o boné do MST na sua frente enquanto sentado à Mesa da CPI, compondo a imagem que queria que fosse vista na TV. Stédile tentava lidar bem com tantos riscos reputacionais para o MST.

Enfadonho

A sessão da CPI foi extremamente longa, mas, no fundo, acompanhar o embate João Pedro Stédile x Ricardo Salles foi tão enfadonho quanto disse em seu tempo de fala a deputada Lídice da Mata (PSB/BA). Isso porque a polarização e a guerra de narrativas continuam impedindo os debates de fôlego, transformadores, no Congresso Nacional. Se houvesse placar em CPI, seria possível arriscar um zero a zero.

Pior é o ritmo das discussões: em muitos momentos tem faltado urbanidade por parte de alguns membros do colegiado. Falta educação. Falta aquele ar fresco de democracia plena que se via em outros tempos em que, num mesmo plenário, um padre se ajoelhava, pedindo a Deus sua ajuda, enquanto, do outro lado, feministas de lilás empunhavam faixas defendendo seus pontos de vista. Visões diferentes, defesas diversas, mas todos respeitosos.

Inaceitável, por exemplo, na reunião da CPI, o uso do nome de Marielle Franco para esquentar ainda mais a briga de nervos. Pois a vereadora, cruelmente assassinada, foi citada constantemente como uma forma de ataque direita x esquerda. Quem matou Marielle? Deputados do PSOL enfrentaram detratores. Para acalmar o ambiente, o carioca Tarcísio Motta chegou a falar rimado, fazendo poesia.

Toque de caixa

Salles maltratou mais de uma hora para questionar Stédile, irritando diversos pares, ansiosos para fazer perguntas. Como ele, vários parlamentares da direita aguerrida tentaram arrancar contradições, achar inverdades nas falas do MST, buscar inconsistências na ida à China com o presidente Lula. A tentativa maior é a de ligar Stédile a grupos terroristas.

Mas Sales não atou nem desatou. E Stédile aproveitou o tempo para ficar em sua zona de conforto. Afinal, acabou. O relator avisou na semana passada que vai escrever o relatório da CPI do MST a toque de caixa, irritado com articulações entre o governo Lula e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL).

“O objetivo do nosso movimento é organizar os trabalhadores para ter uma sociedade igualitária. Só isso. Lá no campo, uma das condições é que todo mundo deve ter acesso à terra”, encerrou Stédile. “Só isso.” Pelos corredores, o MST saiu cantando: “Essa luta é nossa. Essa luta é do povo”. E, finalmente, depois de seis horas e meia de depoimento: acabou.

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Capital e política duelam pelo ESG https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/15/capital-e-politica-duelam-pelo-esg/ https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/15/capital-e-politica-duelam-pelo-esg/#respond Tue, 15 Aug 2023 14:32:49 +0000 https://www.alterconteudo.com.br/?p=23852 No início deste mês, a agência de avaliação de risco S&P Global anunciou que deixou de informar a nota ESG de empresas em seus relatórios de ratings. A decisão é mais um capítulo da guerra travada por parlamentares do Partido Republicano, dos Estados Unidos, contra o uso de critérios ambientais, sociais e de governança por gestores de ativos no país. Em reportagem do Financial Times, Tom Lyon, professor da escola de negócios da Universidade de Michigan, disse que o anúncio da S&P foi “apenas o exemplo mais recente de uma empresa desmoronando diante desses ataques republicanos”. Em nota veiculada em seu site, a agência de rating afirma que “continua comprometida em fornecer ao mercado transparência sobre como fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) influenciam nossa avaliação de qualidade e de crédito”. Nesse sentido, a S&P argumenta que a decisão abrange apenas seus indicadores alfanuméricos ESG, publicados desde 2021, e que manterá em seus relatórios os parágrafos analíticos sobre o tema. A atualização, portanto, não afetaria seus critérios de princípios. De acordo com artigo da Harvard Business Review assinado pelo especialista em negócios sustentáveis Andrew Winston, há resistência em diversos estados a legislações locais que buscam restringir investimentos em instituições financeiras que usam critérios ESG. Esse é o...

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No início deste mês, a agência de avaliação de risco S&P Global anunciou que deixou de informar a nota ESG de empresas em seus relatórios de ratings. A decisão é mais um capítulo da guerra travada por parlamentares do Partido Republicano, dos Estados Unidos, contra o uso de critérios ambientais, sociais e de governança por gestores de ativos no país.

Em reportagem do Financial Times, Tom Lyon, professor da escola de negócios da Universidade de Michigan, disse que o anúncio da S&P foi “apenas o exemplo mais recente de uma empresa desmoronando diante desses ataques republicanos”.

Em nota veiculada em seu site, a agência de rating afirma que “continua comprometida em fornecer ao mercado transparência sobre como fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) influenciam nossa avaliação de qualidade e de crédito”. Nesse sentido, a S&P argumenta que a decisão abrange apenas seus indicadores alfanuméricos ESG, publicados desde 2021, e que manterá em seus relatórios os parágrafos analíticos sobre o tema. A atualização, portanto, não afetaria seus critérios de princípios.

De acordo com artigo da Harvard Business Review assinado pelo especialista em negócios sustentáveis Andrew Winston, há resistência em diversos estados a legislações locais que buscam restringir investimentos em instituições financeiras que usam critérios ESG. Esse é o caso, por exemplo, de executivos de fundos de pensão dos estados de Kentucky e Dakota do Norte. Em Indiana e Nebraska, associações bancárias estão fazendo lobby contra políticas republicanas com o mesmo objetivo.

Conforme observa Winston, a reação do setor financeiro não é movida por filantropia, mas pela busca por bons negócios. Afinal, as questões sociais e ambientais têm impactos materiais consideráveis nas empresas, o que torna investidores legalmente obrigados a considerá-los.

O Texas é um bom exemplo. O governo estadual elaborou uma lista de 10 instituições financeiras e 340 fundos de investimento que estariam boicotando o setor de combustíveis fósseis. Com base em uma lei de 2021, exigiu que fundos de pensão e de escolas retirem investimentos administrados pelos listados.

Estudo divulgado pela Wharton School of Business estima que a legislação do Texas já custou US$ 532 milhões em pagamentos de juros mais altos sobre títulos municipais, com impacto direto no bolso dos contribuintes. Logo, a ofensiva legislativa não faz sentido, tanto sob o ponto de vista financeiro quanto político.

Ao fim e ao cabo, é bem provável que o duelo entre o capital e a política seja um assunto a ser resolvido pelos tribunais. Dadas as responsabilidades fiduciárias impostas com rigor pelos órgãos reguladores dos Estados Unidos aos investidores, o movimento anti-ESG terá muita dificuldade para lograr êxito. 

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A desinformação, o deserto e o diabo https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/14/a-desinformacao-o-deserto-e-o-diabo/ https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/14/a-desinformacao-o-deserto-e-o-diabo/#respond Mon, 14 Aug 2023 14:45:06 +0000 https://www.alterconteudo.com.br/?p=23839 Se identificar uma informação falsa que chega no seu Whatsapp demanda certo esforço de checagem, uma mínima corrida ao Google, vá lá… Imagina numa região remota, com zero internet e pouco acesso à informação de qualidade? Um solo fértil para crescer a desinformação e espalhá-la rapidamente. O Intervozes, por meio do Grupo de Trabalho (GT) de Combate à Desinformação e Discurso de Ódio na Amazônia Legal, e com apoio de outras 8 instituições, lançou durante os Diálogos Amazônicos semana passada, em Belém (PA), um relatório sobre o mapeamento de disseminadores de conteúdos enganosos na região Amazônica. Foram mais de 200 páginas levantadas, em que são perfilados três grandes segmentos, a partir de suas recorrências e aproximações: organizações e ativistas de direita, figuras públicas de representação política e canais ou empresas jornalísticas. Pelo estudo, fica possível perceber onde começa onda de boataria, negacionismo e discursos de ódio, ativos principalmente durante as eleições – mas não só. Tal onda de desinformação ganha terreno, sobretudo, onde a fonte local de notícias é inexistente. E como já é sabido, a cidadania brota em solo cultivado por informação. Sem consciência dos seus direitos e responsabilidades, os cidadãos ficam à mercê de manipulações por parte de grupos partidários...

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Se identificar uma informação falsa que chega no seu Whatsapp demanda certo esforço de checagem, uma mínima corrida ao Google, vá lá… Imagina numa região remota, com zero internet e pouco acesso à informação de qualidade? Um solo fértil para crescer a desinformação e espalhá-la rapidamente.

Intervozes, por meio do Grupo de Trabalho (GT) de Combate à Desinformação e Discurso de Ódio na Amazônia Legal, e com apoio de outras 8 instituições, lançou durante os Diálogos Amazônicos semana passada, em Belém (PA), um relatório sobre o mapeamento de disseminadores de conteúdos enganosos na região Amazônica.

Foram mais de 200 páginas levantadas, em que são perfilados três grandes segmentos, a partir de suas recorrências e aproximações: organizações e ativistas de direita, figuras públicas de representação política e canais ou empresas jornalísticas. Pelo estudo, fica possível perceber onde começa onda de boataria, negacionismo e discursos de ódio, ativos principalmente durante as eleições – mas não só.

Tal onda de desinformação ganha terreno, sobretudo, onde a fonte local de notícias é inexistente. E como já é sabido, a cidadania brota em solo cultivado por informação. Sem consciência dos seus direitos e responsabilidades, os cidadãos ficam à mercê de manipulações por parte de grupos partidários que moldam opiniões conforme suas conveniências.

Atlas de Notícias vem acompanhando desde 2017 os chamados ‘desertos de notícias’, ou seja, municípios brasileiros onde não há sequer um mísero blog a reportar informações locais de interesse público. No último levantamento, uma boa notícia: 30% de redução nos ‘desertos de notícias’ da Região Norte, onde está sua maior incidência. O Le Monde Diplomatique trouxe uma ótima matéria sobre o tema, abordando técnica e praticamente os vieses complexos de desertos de notícias existentes no Brasil.

O que causa espanto no levantamento é que era de se esperar que os estados mais afetados por tal mal fossem os mais isolados e com menos infraestrutura. Mas o que dizer de São Paulo, em que 331 dos 645 municípios estão ‘no escuro’? Este apagão de informações que atinge 51% dos municípios paulistas também afeta 45% das cidades fluminenses. E se no eixo Rio-SP há esse vazio, o que esperar dos demais estados, não?

Talvez o que mais assuste seja saber que, mesmo com acesso à informação, há ainda quem prefira viver no escuro. Ignorando notícias, sejam elas sobre vacinas, mudanças climáticas, mapa da fome, ou mesmo desvio de joias e Rolex.

O diabo mora mesmo nos detalhes.

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Tudo que eu quero é ser um bom pai! https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/11/tudo-que-eu-quero-e-ser-um-bom-pai/ https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/11/tudo-que-eu-quero-e-ser-um-bom-pai/#respond Fri, 11 Aug 2023 15:24:00 +0000 https://www.alterconteudo.com.br/?p=23836 As lágrimas da minha filha Flora, de 9 anos, após o apito final e a desclassificação da seleção feminina de futebol da Copa do Mundo, na semana passada, representaram, para mim, a confirmação de um fato: as mulheres ocuparam finalmente um espaço no mundo machista do futebol brasileiro. Claro que ainda há muito a evoluir, mas a atual presença delas no esporte aqui na terrinha é um marco do empoderamento feminino. No papel de pai de duas meninas – muito além de ajudar a enxugar as lágrimas, cuidar e dar colo à minha primogênita –, celebro este momento com muita alegria. A paternidade é transformadora para quem se permite ser conduzido pela onda. Depois do nascimento ou da adoção de uma criança, há pais que podem até amamentar – porque existem pais com identidade trans masculina. Ser pai não é ‘ajudar’ a mãe. Vai muito além disso. É estar presente em todos os momentos; é dar suporte em tudo que estiver ao alcance. Por isso é tão importante falar também na ampliação da licença-paternidade, que hoje é de apenas cinco dias. No mundo corporativo, algumas empresas já atuam nesta agenda, concedendo prazos mais largos de licença para seus trabalhadores. Este ano, O...

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As lágrimas da minha filha Flora, de 9 anos, após o apito final e a desclassificação da seleção feminina de futebol da Copa do Mundo, na semana passada, representaram, para mim, a confirmação de um fato: as mulheres ocuparam finalmente um espaço no mundo machista do futebol brasileiro. Claro que ainda há muito a evoluir, mas a atual presença delas no esporte aqui na terrinha é um marco do empoderamento feminino. No papel de pai de duas meninas – muito além de ajudar a enxugar as lágrimas, cuidar e dar colo à minha primogênita –, celebro este momento com muita alegria.

A paternidade é transformadora para quem se permite ser conduzido pela onda. Depois do nascimento ou da adoção de uma criança, há pais que podem até amamentar – porque existem pais com identidade trans masculina. Ser pai não é ‘ajudar’ a mãe. Vai muito além disso. É estar presente em todos os momentos; é dar suporte em tudo que estiver ao alcance. Por isso é tão importante falar também na ampliação da licença-paternidade, que hoje é de apenas cinco dias.

No mundo corporativo, algumas empresas já atuam nesta agenda, concedendo prazos mais largos de licença para seus trabalhadores. Este ano, O Boticário colocou corajosamente o dedo na ferida, com uma campanha que vai além da singela homenagem aos papais e questiona o prazo de cinco dias. A empresa concede 120 dias de licença para seus colaboradores diretos, sejam homens ou mulheres.

Para tudo há um processo, e é preciso ter paciência. É uma jornada, a gente sabe. Mas, em algum momento, é necessário iniciar a caminhada, de modo que seja possível escalar degrau por degrau. Foi e ainda é assim com a Lei de Cotas nas universidades públicas federais, que depois de 10 anos incluiu quilombolas entre os beneficiários. Sem dúvida, um instrumento essencial em direção a um possível equilíbrio de forças em um país tão desigual como o Brasil. Para milhares de jovens (pretos, pardos, indígenas, pessoas com deficiência, quilombolas) de escolas públicas, é a única alternativa para cursar uma universidade.

Mas, a realidade para alguns desses jovens no Brasil e, em especial, no Rio de Janeiro, via de regra, é outra. Na segunda (7/8), o frentista Guilherme Martins, de 26 anos, foi enterrado. Ele foi assassinado por policiais no domingo, quando voltava para casa depois de comemorar seu aniversário. “Tudo o que meu filho queria era poder cuidar do filho dele. Só penso no menino, o que vai ser dele sem pai”, disse a mãe de Guilherme, Juliana Martins, em reportagem do G1.

Aos 26 anos (repito, propositalmente), Guilherme só queria ser um bom pai, mas a sua história foi abreviada pelas balas das armas de policiais, que disseram ter ‘confundido’ um celular com uma possível arma na mão do rapaz. Quantos Guilhermes ainda vamos perder até que seja possível mudar esse cenário trágico, onde a polícia mata os nossos jovens de forma tão banal?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares, com muitas respostas, mas com pouquíssimas ações. Infelizmente, Guilherme deve virar estatística na investigação policial e o caso muito provavelmente vai cair no esquecimento. Mas, nada disso muda o fato de que o mundo também precisa de bons pais e de que nós ainda precisamos criar condições para isso.

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Promessas no ar, metas no chão https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/10/promessas-no-ar-metas-no-chao/ https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/10/promessas-no-ar-metas-no-chao/#respond Thu, 10 Aug 2023 15:24:18 +0000 https://www.alterconteudo.com.br/?p=23831 “Uma meta existe para ser um alvoMas quando o poeta diz: metaPode estar querendo dizer o inatingível”. Gilberto Gil lançou a estrofe de “Metáfora” uns 30 anos atrás, mas parece ter inspirado as lideranças que participaram da Cúpula da Amazônia ao fechar a Declaração de Belém na quarta-feira (9). Poetas absolutos, deixaram as metas fora do acordo e traçaram belas palavras e conjunções positivas e esperançosas de futuro melhor em 113 parágrafos sobre 18 temas, entre eles mudanças do clima, proteção dos ecossistemas amazônicos, cooperação no combate a crimes ambientais e reconhecimento da cultura amazônica. “Um dos pontos mais esperados pela sociedade civil era a forma como os países iriam se posicionar em relação ao combate ao desmatamento. A expectativa era que as oito nações se comprometessem com uma meta comum. O documento não traz isso”, comenta Cristiane Prizibisczki, do ECO, destacando a frustração de de diferentes organizações ambientalistas, que usaram expressões como “falho”, “desperdício de oportunidades” e “bonita carta de intenções” para classificar o documento, também chamado de “vago” e “fraco”. Outro ponto que chamou a atenção foi a completa ausência de menção aos relatórios produzidos durante os Diálogos Amazônicos, que aconteceram em Belém entre os dias 4 e 6, reunindo 30...

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“Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: meta
Pode estar querendo dizer o inatingível”.

Gilberto Gil lançou a estrofe de “Metáfora” uns 30 anos atrás, mas parece ter inspirado as lideranças que participaram da Cúpula da Amazônia ao fechar a Declaração de Belém na quarta-feira (9). Poetas absolutos, deixaram as metas fora do acordo e traçaram belas palavras e conjunções positivas e esperançosas de futuro melhor em 113 parágrafos sobre 18 temas, entre eles mudanças do clima, proteção dos ecossistemas amazônicos, cooperação no combate a crimes ambientais e reconhecimento da cultura amazônica.

“Um dos pontos mais esperados pela sociedade civil era a forma como os países iriam se posicionar em relação ao combate ao desmatamento. A expectativa era que as oito nações se comprometessem com uma meta comum. O documento não traz isso”, comenta Cristiane Prizibisczki, do ECO, destacando a frustração de de diferentes organizações ambientalistas, que usaram expressões como “falho”, “desperdício de oportunidades” e “bonita carta de intenções” para classificar o documento, também chamado de “vago” e “fraco”.

Outro ponto que chamou a atenção foi a completa ausência de menção aos relatórios produzidos durante os Diálogos Amazônicos, que aconteceram em Belém entre os dias 4 e 6, reunindo 30 mil pessoas, representando as organizações civis de todas as frentes, em discussões densas e relevantes.

Os jornalistas especializados, que cobrem os temas de sustentabilidade, começaram a divulgar que o rascunho do acordo tinha vazado no domingo à noite, antes mesmo de os relatórios saírem. Mas esperava-se que fossem complementados ao longo da semana. Mas que nada. Foram apenas ratificados.

Poder 360 destacou que há na Cúpula da Amazônia o mérito de ter mobilizado os países da região e a base do governo o tema. “Com a Esplanada dos Ministérios em peso na capital paraense, a cúpula, no entanto, não contribuiu com o objetivo de Lula se catapultar como grande liderança do meio ambiente mundial por conta do impacto limitado das propostas apresentadas nos documentos finais”, ressaltou.

Os dois principais objetivos do presidente nesta cúpula eram mostrar os resultados do que vem sendo feito no combate ao desmatamento aos europeus como forma de provar que o Brasil está disposto a avançar nas questões ambientais e, outro era chegar a uma posição conjunta dos países amazônicos, liderados pelo Brasil, a ser apresentada na COP28, que será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, em dezembro.

“Se você pegar a pauta de 14 anos atrás você verá que a questão ambiental entrou de uma forma muito tangencial. Se você pegar agora, é o tema central da cúpula: floresta, biodiversidade, bioeconomia”, comemorou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para quem a Cúpula foi um sucesso, mesmo sem uma linha na declaração final tratando sobre combustíveis fósseis ou desmatamento zero. Mudou a cúpula, mudaram eles, mudamos nós, mudou tudo. Só Gilberto Gil fica:

“Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora”

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Incerteza: que história do presente se está escrevendo? https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/09/incerteza-que-historia-do-presente-se-esta-escrevendo/ https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/09/incerteza-que-historia-do-presente-se-esta-escrevendo/#respond Wed, 09 Aug 2023 13:44:24 +0000 https://www.alterconteudo.com.br/?p=23823 O cenário de políticas públicas para o meio ambiente no Brasil vive momentos de oxigenação, mas com muitos riscos de retrocesso, estacionamento, perplexidade. Forças de expansão e compressão ainda se enfrentam no cenário polarizado a caminho de espicaçar umas as teorias das outras. Uma democracia sofrida ouve de cá e de lá ataques e argumentos que, no final do dia, não se sabe direito como classificar. No final das contas, continua-se em um caminho de incertezas. Agendas se chocam no tabuleiro da democracia. Ainda na terça-feira (8/8), enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falava sobre a Cúpula da Amazônia, enaltecendo o encontro como divisor de águas na discussão global sobre o clima, no Parlamento, forças políticas oponentes atuavam para influenciar o debate, no Senado, sobre Marco Temporal e CPI das ONGs e, na Câmara, sobre CPI do MST. Acompanhada de perto pelas lideranças da bancada ruralista, a senadora Soraya Thronicke (Podemos/MS) apresentou o relatório do Marco Temporal à Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado. “Apresentei o relatório pela aprovação do PL 2903/2023 como veio da Câmara”. Como defenderam os ruralistas, manteve-se o texto definindo que “são terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas brasileiros aquelas que, na data...

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O cenário de políticas públicas para o meio ambiente no Brasil vive momentos de oxigenação, mas com muitos riscos de retrocesso, estacionamento, perplexidade. Forças de expansão e compressão ainda se enfrentam no cenário polarizado a caminho de espicaçar umas as teorias das outras. Uma democracia sofrida ouve de cá e de lá ataques e argumentos que, no final do dia, não se sabe direito como classificar. No final das contas, continua-se em um caminho de incertezas.

Agendas se chocam no tabuleiro da democracia. Ainda na terça-feira (8/8), enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falava sobre a Cúpula da Amazônia, enaltecendo o encontro como divisor de águas na discussão global sobre o clima, no Parlamento, forças políticas oponentes atuavam para influenciar o debate, no Senado, sobre Marco Temporal e CPI das ONGs e, na Câmara, sobre CPI do MST.

Acompanhada de perto pelas lideranças da bancada ruralista, a senadora Soraya Thronicke (Podemos/MS) apresentou o relatório do Marco Temporal à Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado. “Apresentei o relatório pela aprovação do PL 2903/2023 como veio da Câmara”.

Como defenderam os ruralistas, manteve-se o texto definindo que “são terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas brasileiros aquelas que, na data da promulgação da Constituição Federal, eram, simultaneamente: I – habitadas por eles em caráter permanente; II – utilizadas para suas atividades produtivas; III – imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar; IV – necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”.

Diz o parágrafo 2º: “a ausência da comunidade indígena em 5 de outubro de 1988 na área pretendida descaracteriza o seu enquadramento no inciso I do caput deste artigo, salvo o caso de renitente esbulho devidamente comprovado”.

CPI do MST

Também na terça, a CPI do MST ouviu ex-integrantes, críticos ao movimento. Interrogado pelo relator, Ricardo Salles (PL-SP), se o MST busca um perfil específico de pessoas com conhecimento sobre produção agrícola para participar do movimento Liva do Rosa afirmou que “isso não importa para o MST”. E prosseguiu: “o MST quer um RG, um CPF e um título de eleitor e a partir dali começa a doutrinação”.

CPI das ONGs

A CPI das ONGs, por sua vez, tomou o depoimento do jornalista mexicano Lorenzo Carrasco, que está radicado no Brasil desde a década de 1980. Ele é autor dos livros como Máfia verde: o ambientalismo a serviço do governo mundial (2001), e Quem manipula os indígenas contra o desenvolvimento do Brasil: um olhar nos porões do Conselho Mundial de Igrejas (2013).

Para o depoente, “as ONGs são braços de um aparato internacional que não tem controle no Brasil” e que, há muitos anos, atuam como se fossem “enclaves dentro da própria estrutura do Estado”, incluindo, segundo ele, instituições policiais e o Ministério Público.

É preciso entender como os textos finais das leis e dos relatórios das CPIs deixarão a história do presente do Brasil registrada. Quem se responsabilizará por essas memórias?

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Mercado voluntário em compasso de espera https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/08/mercado-voluntario-em-compasso-de-espera/ https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/08/mercado-voluntario-em-compasso-de-espera/#respond Tue, 08 Aug 2023 12:39:21 +0000 https://www.alterconteudo.com.br/?p=23820 A busca por mais integridade nos créditos negociados no mercado voluntário de carbono tem alcançado resultados importantes nos últimos meses, mas muitas dúvidas ainda permanecem. A mais recente iniciativa veio da organização independente de governança Integrity Council for the Voluntary Carbon Market (ICVCM), que anunciou os critérios que servirão de base para seus novos padrões do Princípio Básico de Carbono (CCP, na sigla em inglês). A previsão é de que, até o final do ano, estejam disponíveis no mercado os primeiros créditos rotulados pelo CCP. De acordo com os critérios anunciados pelo ICVCM, o objetivo da iniciativa é aumentar a capacidade do mercado voluntário de carbono e apoiar o cumprimento das metas climáticas globais. Para isso, entre os critérios a serem levados em consideração é a compatibilidade com a transição para Net Zero, ou seja, projetos que resultem no bloqueio de emissões. Outra exigência é a necessidade de compensarem qualquer reversão nos próximos 40 anos, além de comprovarem reduções e remoções que não aconteceriam sem a negociação do crédito. De acordo com Dana Agrotti, analista de Mercados de Carbono da S&P Global, o anúncio do ICVCM traz alguma clareza ao mercado, mas é improvável que a iniciativa resulte em alta de preços e aumento de...

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A busca por mais integridade nos créditos negociados no mercado voluntário de carbono tem alcançado resultados importantes nos últimos meses, mas muitas dúvidas ainda permanecem. A mais recente iniciativa veio da organização independente de governança Integrity Council for the Voluntary Carbon Market (ICVCM), que anunciou os critérios que servirão de base para seus novos padrões do Princípio Básico de Carbono (CCP, na sigla em inglês).

A previsão é de que, até o final do ano, estejam disponíveis no mercado os primeiros créditos rotulados pelo CCP. De acordo com os critérios anunciados pelo ICVCM, o objetivo da iniciativa é aumentar a capacidade do mercado voluntário de carbono e apoiar o cumprimento das metas climáticas globais.

Para isso, entre os critérios a serem levados em consideração é a compatibilidade com a transição para Net Zero, ou seja, projetos que resultem no bloqueio de emissões. Outra exigência é a necessidade de compensarem qualquer reversão nos próximos 40 anos, além de comprovarem reduções e remoções que não aconteceriam sem a negociação do crédito.

De acordo com Dana Agrotti, analista de Mercados de Carbono da S&P Global, o anúncio do ICVCM traz alguma clareza ao mercado, mas é improvável que a iniciativa resulte em alta de preços e aumento de liquidez até o próximo semestre do ano que vem. O motivo é a expectativa sobre quais categorias de projetos e metodologias serão elegíveis de receberem o rótulo CCP.

Uma das incógnitas diz respeito aos projetos REDD+, que envolvem desmatamento evitado. Os créditos nessa categoria passam por um momento de intenso escrutínio, em virtude da recente divulgação de estudos que questionam a validade de parte desses ativos. Trata-se de um tema que interessa ao Brasil, mercado com grande potencial de atrair investimentos nesse segmento.

Por falar no Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) decidiu cancelar as chamadas públicas para aquisição de créditos de carbono no mercado voluntário lançadas no ano passado. De acordo com nota divulgada no site da instituição, “entendeu-se necessário reestruturar a estratégia de apoio do Banco ao referido mercado, considerando os avanços regulatórios e o próprio desenvolvimento do mercado voluntário”. A conferir as cenas dos próximos capítulos.

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Imagina na COP https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/07/imagina-na-cop/ https://www.alterconteudo.com.br/2023/08/07/imagina-na-cop/#respond Mon, 07 Aug 2023 18:49:42 +0000 https://www.alterconteudo.com.br/?p=23814 Da lotação de hotéis às filas para a única lanchonete no local. Da indisponibilidade de táxi/uber, às filas de banheiros. A frase que mais se ouve em Belém do Pará há uma semana é a que compara situações atuais, demonstrativas de falta de estrutura ou preparo para receber grandes eventos, em vista da COP 30, marcada para acontecer em 2025 na cidade, elevando em proporções estratosféricas os eventos que estão acontecendo, os Diálogos Amazônicos, que começaram sexta e terminaram no domingo, a Cúpula da Amazônia, entre terça e quarta-feira, e todos os demais, que acontecem em paralelo e pegando carona na pauta ambiental. ‘A cidade parece estar sendo maquiada para mostrar um cartão postal sustentável que não é real, ao invés de dialogar com os moradores, que parecem não entender bem que, na verdade, este evento diz respeito às suas vidas e ao racismo ambiental sofrido por eles até quando são anfitriões da maior conferência do clima’, refletiu Txai Suruí em sua coluna na Folha, no sábado, falando principalmente sobre as desigualdades que assolam a cidade. ‘Imagina na COP’, a frase deboche, também poderia ser a que nos permite sonhar. Sim, porque, se de um lado estão os anseios de saber como...

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Da lotação de hotéis às filas para a única lanchonete no local. Da indisponibilidade de táxi/uber, às filas de banheiros. A frase que mais se ouve em Belém do Pará há uma semana é a que compara situações atuais, demonstrativas de falta de estrutura ou preparo para receber grandes eventos, em vista da COP 30, marcada para acontecer em 2025 na cidade, elevando em proporções estratosféricas os eventos que estão acontecendo, os Diálogos Amazônicos, que começaram sexta e terminaram no domingo, a Cúpula da Amazônia, entre terça e quarta-feira, e todos os demais, que acontecem em paralelo e pegando carona na pauta ambiental.

‘A cidade parece estar sendo maquiada para mostrar um cartão postal sustentável que não é real, ao invés de dialogar com os moradores, que parecem não entender bem que, na verdade, este evento diz respeito às suas vidas e ao racismo ambiental sofrido por eles até quando são anfitriões da maior conferência do clima’, refletiu Txai Suruí em sua coluna na Folha, no sábado, falando principalmente sobre as desigualdades que assolam a cidade.

‘Imagina na COP’, a frase deboche, também poderia ser a que nos permite sonhar. Sim, porque, se de um lado estão os anseios de saber como a cidade dará conta do desafio, de outro está o conteúdo denso e as falas potentes que se mostraram presentes durante os ‘Diálogos’, dando esperanças de que os temas da sustentabilidade sejam efetivamente colocados em prática transversalmente nas políticas públicas, e não permaneçam apenas em palavras bonitas postas em tratados e cartas de intenções. Imagina se todas as declarações de ministros ao longo dos últimos dias se tornam realidade, se saem das palavras e vão para a prática?

Todos os ministros do atual governo que passaram pelos Diálogos Amazônicos, com destaque para Marina Silva, Silvio de Almeida, Anielle Franco e Sônia Guajajara – tratados como popstars pelo público do evento, ao lado do cacique Raoni – foram enfáticos na defesa da construção de políticas públicas perenes. Terão deixado um imenso legado para 2025, quando ocorrer a COP, se tirarem do campo das ideias tudo o que pretendem fazer.

A Cúpula, ao contrário dos Diálogos Amazônicos, é um evento fechado ao público, que estará restrito aos 8 chefes de Estado que se encontram em Belém no âmbito da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), único mecanismo internacional com sede no Brasil. Também durante a Cúpula, estará reunido o ‘Conselhão’ – Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável. Mas, ao longo de todo esses dias, nem mesmo os jornalistas terão acesso presencial às autoridades e assistirão a tudo a partir dos monitores da sala de imprensa. E bota jornalistas nisso. Segundo a equipe de credenciamento da Presidência da República, o número de inscritos para a cobertura já supera o da posse de Lula, até então recorde de pedidos – inclusive de jornalistas estrangeiros. Quase 500 profissionais estão de olho nas negociações a partir de amanhã.

Hoje, ao longo de todo o dia, prevalecerão agendas paralelas, alguns ministros já deixam a cidade, assim como representantes da sociedade civil que terminaram os Diálogos. Os presidentes da Petrobras e do BNDES despacham na cidade, bem como alguns ministros, que permanecem por aqui.

Lula, que hoje visitará o barco hospital do Projeto Saúde e Alegria, em Alter do Chão, chega ao evento amanhã com duas missões ingratas. A primeira delas é unir os demais países em torno da causa do desmatamento. O maior temor é que os criminosos passem a explorar o garimpo ou madeira ilegal em outras fronteiras depois de terem suas atividades coibidas por aqui. A segunda, mais ingrata, já que trata de divergências em sua própria equipe, trata de um posicionamento sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial, alvo de manifestações aguerridas nos últimos dias e que prometem ser ainda maiores ao longo da semana. A posição ambígua de Lula, defendendo o desmatamento zero para preservar a Amazônia e encontrando brechas na legislação para permitir a exploração, à revelia de posicionamento contrário do Ibama e de sua ministra do Meio Ambiente, será posta em xeque. Não necessariamente pelos integrantes da Cúpula, quase todos favoráveis à continuidade da exploração do petróleo em seus países. Mas… imagina na COP.

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